sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Desabafo

Em dezembro do ano passado, a jornalista Elvira Lobato da Folha de S.Paulo escreveu uma matéria que traçava um cenário econômico dos 30 anos da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Intitulada como “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”, a reportagem afirma que a Igreja não é apenas dona de empresas de comunicação - 23 emissoras de TV e 40 de rádio – como também de agência de turismo, saúde, imobiliária e empresa de táxi aéreo. Segundo a jornalista, “uma hipótese é que os dízimos dos fiéis sejam esquentados em paraísos fiscais”, já que a empresa Cremo Empreendimentos, que financiaria a compra das corporações pelos bispos, teria ligações com a Cableinvest, que fica no paraíso fiscal da Ilha de Jersey, no Canal da Mancha. O levantamento mostra 19 empresas registradas em nome de 32 membros da Iurd, principalmente bispos.

Desde então, mais de 50 ações foram movidas contra o jornal e a jornalista em questão. Mesmo não citando qualquer fiel em particular, eles alegaram ofensa e parecem ter armado uma grande estratégia de cerco contra a mídia, já que os processos foram abertos em mais de 20 Estados brasileiros. Assim, o trabalho de defesa torna-se difícil, não só pela diversidade de cidades, como pelo fato de haver, muitas vezes, audiências marcadas para o mesmo dia em lugares distantes uns dos outros.

“Não cogitei que o dinheiro dos fiéis fosse limpo. O que coloco em questão é a possibilidade de o dízimo doado à obra divina estar sendo utilizado para investimentos privados”
Elvira Lobato, da Folha de S.Paulo

Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) disse que a intenção da Iurd não é restabelecer a sua honra ou verdade, e sim coagir o dever da imprensa de informar a sociedade. Além disso, os textos das ações são praticamente iguais, mais um indício de que se trata de uma estratégia de intimidação.

“As ações judiciais alegam pretensos danos morais sofridos pelas fiéis da Universal, mas não escondem o claro propósito de intimidar o livre exercício do jornalismo. (...) Mover as ações em grande número, com origem em diversos pontos do país, é uma tática que evidencia o verdadeiro intuito de causar transtornos aos jornais e jornalistas, que se vêem obrigados a comparecerem e constituírem defesa em dezenas de cidades e a multiplicarem, conseqüentemente, os custos de sua defesa. Na medida em que criam essas dificuldades, os autores das ações e seus mentores, a rigor, pretendem induzir jornais e jornalistas a silenciarem informações a respeito da Universal.”
Associação Nacional de Jornais (ANJ)

A Igreja se defende com o argumento de que os fiéis estão manifestando sua rejeição em relação às notícias - classificadas como “lamentáveis”- publicadas nos jornais, mas que ela já entrou com suas ações judiciais e por isso não tem interesse em organizar e incentivar processos individuais por parte deles. Desculpa, mas não é o que parece!

“A Iurd respeita a liberdade de imprensa, os jornalistas e suas entidades representativas, porém, não admite que reportagens sejam usadas para ofensas de outras garantias constitucionais como a dignidade da pessoa humana, o acesso à Justiça, à liberdade de crença e à inviolabilidade da honra”,
Igreja Universal do Reino de Deus, em comunicado à Imprensa

Há uma semana, sexta-feira dia 22/02, a Folha venceu mais uma ação sobre o caso envolvendo a Universal. Já é a sétima vitória, e a Justiça tem alegado que a jornalista não menciona qualquer fiel em especial e que, se alguém virou motivo de piada por causa da reportagem, a ação deveria ser movida contra estas pessoas e não contra Elvira Lobato ou o jornal.

Diante desse episódio todo, vem a parte que muito me revolta: nosso presidente Lula, em depoimento sobre esse caso, disse que “quem fala o que quer, ouve o que não quer”. Ele já demonstrou antes que não é lá muito amigo dos veículos de comunicação, mas demonstrar a indiferença - e talvez até a cumplicidade - diante de um ato que vai contra a liberdade de imprensa.. aí já é demais. Demais! - Fica aqui o meu desabafo e apoio à imprensa.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Medu

Ele vem do latim: medu. Ele é adjetivo, relativo à Média ou aos Medos; médão; duna. Ele é ele. Todo imponente, tão forte, que chega a impedir certas ações.

Medo de trânsito. Medo do mar. Medo de baratas. Medo da morte. Medo do escuro, de andar de avião. Medo de agulha, de sangue, de chorar. Medo de tudo! Medo de amar. Medo é o que não falta, só falta acabar. Meu medo maior tinha um nome, mas eu resolvi mudar.


Conserve seu medo
Mas sempre ficando
Sem medo de nada
Porque dessa vida
De qualquer maneira
Não se leva nada

E ande pra frente
Olhando pro lado
Se entregue a quem ama
Na rua ou na cama
Mas tenha cuidado

Conserve seu medo

(Conserve seu medo, Raul Seixas)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A arte publicitária de Oliviero Toscani

- Esse eu recomendo!

Discussões furiosas, confrontos de idéias e milhares de artigos agressivos ou cheios de elogios surgiram em torno das polêmicas campanhas publicitárias da Benetton, feitas por Oliviero Toscani. Com ou sem razão, o publicitário obrigou vários comunicólogos, perturbados pelos debates que nunca conseguiram despertar, a se questionar sobre a maneira de fazer propaganda. No livro A Publicidade é um cadáver que nos sorri, Toscani consegue refletir e criticar a arte publicitária da mesma maneira que seu trabalho na Benetton: com classe e argumentos pertinentes.

Filho de fotógrafo, Toscani herdou a paixão pela profissão do pai e publicou sua primeira foto aos 14 anos. Na escola de Zurique, onde estudou Artes, ele já demonstrava personalidade contestadora, que desde cedo queria inventar tudo, questionar os valores da sociedade e discutir as diferenças, os problemas não resolvidos do mundo. Depois de vencer em um concurso de fotografia, ele teve a oportunidade de viajar pelos cinco continentes do mundo, durante oito meses. E foi assim que Toscani conseguiu o primeiro trabalho e abriu portas para todos os outros.

O publicitário conta que quando era criança havia uma imagem de cristo em frente à sua cama e que ela foi a primeira formação estética e dramatúrgica que teve. Partindo disso, Toscani faz uma comparação, em seu livro, entre a publicidade e a religião. Ele observa que ambas têm grande expressividade, mas que mostram um mundo normalizado e aculturado, além de explorar o sentimento de culpa de todos aqueles que “não merecem” entrar no império do consumo. Segundo o autor, a publicidade vende a felicidade assim como a igreja vendia as “indulgências”. A diferença é que a primeira não reflete sobre o poder dos símbolos que utiliza e insiste no culto ingênuo da beleza, que só vê o belo nas coisas belas.

Já que a condição humana é inerente ao consumo, por que a comunicação que o acompanha deveria ser superficial? Essa é outra questão abordada pelo publicitário. As campanhas da Benetton eram polêmicas e levantavam discussões importantes sobre temas sérios, como racismo, sexo, guerra, Aids, etc. Para Toscani, a intensidade dos debates e a paixão que suscitavam já provam a força desse trabalho, que ele sempre defendeu como uma responsabilidade pessoal e social: “vocês acham que uma empresa privada deve se responsabilizar pela moral e consciência social? E por que não? Por que ela estaria acima da confusão, fora do mundo?”

Oliviero Toscani queria discutir, comunicar-se com a sociedade, com o mundo. Em ocasião da guerra que se estendia por toda a ex-Iugoslávia, no fim de 1993, o publicitário montou um cartaz para a Benetton com a imagem de um uniforme manchado de sangue e um fundo branco, de maneira que a roupa desenhasse o corpo do homem que a tinha usado. Uma frase da carta do pai do jovem complementava o cartaz: “Eu, Gojko Gagro, pai de Marinko Gagro, nascido em 1963 em Blatnica, distrito de Citluk, desejo que o nome de meu filho morto, Marinko, e tudo o que resta dele sejam utilizados em favor da paz e contra a guerra.” Com isso, Toscani não pretendia dar respostas, mas questionar sobre os civis e todos os outros mortos em Saravejo. “Por trás de cada soldado há sempre um homem com sua vida pessoal, as pessoas que ele ama, a sua história. E atrás de cada vida rompida existe a responsabilidade de um mundo que se limita a olhar”, escreveu.

O mundo inteiro comentava as campanhas da Bennetton. Muitos publicitários se sentiram incomodados e acusavam Toscani de se aproveitar da infelicidade humana para vender. Mas ele não se deixava intimar e sempre respondia às inúmeras críticas. Nesta campanha que questionava a guerra, por exemplo, ele afirmava que não se pode censurar aquilo que alguém tenha livremente decidido expressar. Além disso, Toscani insiste que não estava tentando convencer o público a comprar, mas sim que as pessoas entrassem em sintonia com ele mesmo sobre alguma idéia filosófica. Ele aventurava-se a transformar um slogan publicitário numa iniciativa humanista e era acusado de cinismo quando dizia que seu objetivo não era vender, e sim defender uma nova concepção da arte fotográfica e publicitária.

Diante de tanta polêmica e de declarações provocantes, Toscani saiu pelo mundo respondendo às críticas e defendendo seus pontos de vista. Para além dos cartazes publicitários, o autor trouxe os debates para um livro sensacional, em que fica clara a determinação e as idéias políticas que têm. Para ele, o que incomodou tanto a época foi que a realidade e a arte aparecessem juntas na publicidade: “hoje, tanto o público quanto os críticos se acostumaram, aceitaram discutir, compreendem melhor o sentido da minha iniciativa”.

Não se pode negar que as idéias de Toscani são boas, principalmente porque a Benetton é considerada uma das cinco marcas mais reconhecidas mundialmente. Mas dizer que a empresa não pretendia vender, parece mesmo um cinismo. O que se percebe é que Toscani descobriu uma maneira diferente e inovadora de fazer publicidade, em que a intenção comercial se aliava às discussões sociais. O publicitário soube chamar atenção do consumidor como ninguém e agora divide suas idéias e concepções em um livro primoroso. Uma amostra de que também sabe escrever e, porque não, provocar com palavras.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Parágrafo, caixa alta

A idéia inicial era fazer um portfólio com as minhas matérias da faculdade. Esse ponto de partida foi se tornando algo menos formal, e aí nasceu esse blog. No fundo, o conceito é simples: escrever, escrever, escrever!